sábado, 29 de setembro de 2018

TSDT: história e humanidades, uma falha nos curricula



O médico dos raios x por Ivo Saliger, 1894-1987 


         Porque o passado nos provoca inquietudes e admiração. Estas profissões, das áreas diagnóstica e terapêutica, são muito exigentes e dependentes das novas tecnologias e saberes. A sua primeira tarefa é a renovação permanente do conhecimento. As novas descobertas gizadas em laboratórios, hospitais e em gabinetes de alta engenharia, com muita facilidade invadem os espaços físicos e retiram velhos equipamentos substituindo-os por novos, apropriam-se dos espaços, tornando-os limpos e certificados, fazendo parecer longínquas as velhas máquinas, as velhas teorias etc.
     Para que serve então estudar a história da saúde quando a pressão é toda feita no sentido de abandonar paradigmas antigos, como se fossem desajustados, inexactos e inválidos? Temos tempo e energia para gastar no que passou se existe tanta coisa nova para aprender?
   Defendo, em linha com alguns autores (Rifkin,1996; Merrell,2005; Buzzi,2014), que sim por razões várias: a) o conhecimento do passado facilita aprender com as lições da história e ajuda a não repetir erros. Muito deve ser descartado e a história ensina-nos, por exemplo, a necessidade de existir evidência científica. Um exemplo recente, desta falta de evidência científica são as abordagens anticientíficas dos medicamentos alternativos; b) os heróis são necessários e inspiram-nos. Deslocam com eles crenças e atitudes, além dos seus contributos efetivos para o progresso das ciências da saúde. Os nossos heróis vêm na senda de Galileu, Copérnico, Pasteur, Röentgen, Leaneuc, Fleming, Landsteiner; c) é importante projetar o futuro. A conexão entre dois pontos, passado e presente, permite projetar a linha geométrica do futuro. Por exemplo, o conhecimento profundo de anatomia permite a construção de programas e reconstruções anatómicas extraordinárias, anunciou a evolução da cirurgia, da própria radiologia. Um conhecimento histórico que fundamenta previsões futuras; d) estudar a história faz de nós seres mais humildes. Os nossos antepassados fizeram o melhor que sabiam, e hoje nós sabemos que nadavam num mar de erros, preconceitos e com ferramentas muito limitadas, aos nossos olhos. Ora, num tempo em que o conhecimento é supersónico é inevitável que as nossas práticas com facilidade sejam descartadas. Muitos conceitos que incorporamos, alguns com muito custos, rapidamente se mostram errados e temos de assimilar outros, igualmente difíceis. Tomamos consciência que fizemos algumas coisas erradas porque o conhecimento tinha erros. Por isso, devemos prosseguir os nossos compromissos com humildade e fazendo sempre o melhor que sabemos e com o que temos; e) o estudo da história reafirma princípios fundamentais das ciências da saúde que simplesmente não mudam apesar da ciência, tecnologia, mudança social e política. A saber: a preocupação para e com os outros e a curiosidade científica, que tem sustentado o progresso, desculpando fracassos e orientando os objetivos para o bem da humanidade.       
       Para conhecermos a nossa evolução técnico-científica devemos investigar o passado (e para resultar numa verdadeira  conscientização deve ser propiciado por quem sabe, a história tem especialistas), coloca-lo frente a frente com o presente, confrontá-lo e visualizar algum futuro. A história dos TSDT, novos atores/praticantes, com os quais todos os humanos, desde que nascem até ao último dia de  vida, se cruzam deve ser uma valência dos curricula.

Bibliografia:    
Bazzi, A.E. Why is relevant ? Elsevier.2014
Entralgo, P.L Historia de la medicina, 2014
Merrell RC. Historia y ética. Universidad del Azuay. 2007
Rifkin Jeremy. El siglo de la Biotecnología,Barcelona, 1998.

1 comentário:

  1. Á voragem do tempo tenho dito que há bibliografia com mais de quatro anos (e.g. Bíblia) que eu não a deito fora. Homo Sapiens Sapiens é antigo e a nossa tentativa de acrescentar mais um Sapiens ao nome não pode renegar e ignorar o conhecimento que nos trouxe até aqui.

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