sexta-feira, 22 de junho de 2018

2018. A luta dos TSDT e "Liberdade Guiando o Povo" de E. Delacroix

Liberdade Guiando o Povo, 1830, Eugène Delacroix, 
Museu do Louvre, Paris.


         Após a queda de Napoleão e na tentativa de resguardar e manter o regime absolutista, depois de algumas sucessões nesta linha, Carlos X, convicto absolutista, toma o poder e instituí uma série de medidas tão impopulares que resultam numa série de levantes, entre a burguesia e o povo, iniciando uma guerra civil que Delacroix retrata nesta obra.
         Artista do romantismo francês, Eugene Delacroix[1], homenageia a revolução francesa, apesar de nela não ter estado em nenhum levante. Dão-nos evidência os livros de história, que o pintor permaneceu em casa, refugiado no seu apartamento com medo de sair à rua. Diz-se mesmo, que se inspirou em gravuras do conflito e aponta-se o trabalho de Nicolas Charlet como inspiraçãoÉ, no entanto, rápido na execução da obra, 3 meses após a revolução, e com realismo tal que constrangia o público da época. A obra é apresentada em 1831.
         Até aqui,  as pinturas de guerra eram mais assépticas. Com a mulher ao centro, que expõe a liberdade, Delacroix exibe o lixo e fumo deixando prever algumas características desonrosas do confronto: a deusa clássica que espelha a liberdade, o homem sem calças, que por si mostra que está desprovido da sua dignidade, as roupas roubadas talvez pelos revoltosos, os objectos furtados pelos revolucionários à guarda real, as bandeiras, a tricolor usada na Revolução Francesa de 1789 e nas guerras de Napoleão e o simbolismo associado às suas derrotas, as pinceladas visíveis indo contra as regras académicas que determinam a sua invisibilidade, etc. A obra durante muitos anos não foi exposta publicamente e só em 1874 é adquirida pelo Louvre, e exposta com a honra que merece.
         Não temos um  Delacroix a pintar a nossa luta, mas temos a garra que Delacroix expõe nesta obra, temos gente forte, persistente, abnegada. Gente cheia de revolta, 19 anos de luta e já algumas gerações de profissionais saturados, gerações após gerações sucedem-se e os problemas mantêm-se. Um grupo profissional farto de injustiças,  exausto fisicamente  por falta de pessoal,etc.
         De facto, o governo conseguiu um mix de razões que se incorporam numa união sem limites. Ainda estamos dentro das lógicas institucionais, um dia, acredito, seremos ilógicos, imprevisíveis e a nossa história terá essa marca. Jamais nos vergaram, umas vezes aos milhares outras às centenas, vamos marcando presença nas diferentes lutas. Com diversidade de opiniões, mas com o nosso self, que os senhores dos sucessivos governos têm ajudado a construir.
         Lembrei-me de Delacroix pelo que terá dito anos mais tarde: “se não lutei pelo meu país, pelo menos terei pintado por ele”. Não estando eu a caminho de Lisboa, digo: "se não vou a Lisboa pelo menos ando aqui ao telemóvel a sacar percentagens de adesão".
         Pronto, apeteceu-me escrever isto para memória futura.


[1]ver A Liberdade guiando o povo. In: Wikipédia, a enciclopédia livre [Em linha]. Flórida: Wikimedia Foundation, 2018, rev. 27 Maio 2018. [Consult. 27 mai. 2018]. Disponível em WWW:<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=A_Liberdade_guiando_o_povo&oldid=52193697>.





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