quinta-feira, 26 de abril de 2018

Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância



Foi por volta de 424 a.C. que Sócrates debitou este pensamento. Pressentia o sábio que a ausência de limites bem definidos, relativamente ao saber, traz à tona uma certa insipiência, que nos próprios termos é até atrevida. É claro, (só para alguns que esta coisa de clareza é muito subjetiva), tem de se ser sapiente em alguma coisa para se saber ser ignorante, forma pela qual se consegue manter a fachada da ignorância, quase como modus vivendi. É, igualmente, claro, ou não, que a verdade sustentada em factos, ou a verdade factual como agora se usa dizer, traveste uma certa população, usualmente, com ausência ou débil formação epistemológica, a passar por algo ou alguém que possui um conhecimento que não possui. Anexa-se a isto, o flagelo que atravessa o século XXI, a falta de que padece grande parte da elite ignorante e que se considera entendida na arte da opinião.

É claro que queremos todos um lugar ao sol, a perverter a Alegoria da Caverna, à lá século XXI. Em vez de nos confrontarmos com a própria sombra, substituímos isso por um espelho que nos deglute, porque o Sol não tem fim e a sombra, neste fervor de um fogo democrático, serve a todos. Na verdade, ninguém se auto analisa, ou se quer lê os outros, vivemos quase todos para a nossa própria opinião. Sem contraditório de outra qualquer verdade ou de outra mentira, autocentramo-nos.

Para que interessa a verdade? Para quê saber se os momentos são ou não oportunos? Se os momentos são ou não oportunistas?
Nada disso já interessa. Interessa é fazer render, dar azo à incongruência do contraditório. E isso são os escassos e efémeros minutos  para que muitos vivem sem sequer se importarem que em nada contribuíram

Travestidos continuamos, quais pobres ignorantes.  Eu, pessoalmente, raramente alcanço a luz da sabedoria plena. Pelo contrário, a noção do que é verdadeiro, oportuno, justo, está para mim, em linha com Sócrates, apenas no limite do inteligível. É aquilo que nos oferecem as humanidades, hoje obrigatórias nas ciências da vida, e ausentes de novas oportunidades, mesmo que  certificadas.

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Aquilo que aqui estivemos a falar foi de um capítulo da República de Platão, “A alegoria da caverna”, diálogo entre Sócrates e Glauco transformado num debate conduzido pelo primeiro e de forma arguta seguido por Glauco sobre a razão humana, sobre concepçoes de bem e de mal, de verdade e de mentira. Enfim, sobre uma qualquer e hipotética formação cultural.

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