quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Doentes dos IPO queixam-se de atrasos em Lisboa, Porto e Coimbra.

É evidente que sim. É claro que vivemos uma ditadura das finanças que estrangula tudo.
É muito esclerótica esta ditadura financeira em diferentes negociações, seja ela dos diversos grupos profissionais (os tsdt(s) sabem aquilo a que estão a ser sujeitos), seja ela de fornecedores ao estado.

Tudo isto, quem sabe, é necessário para deixarmos um país melhor para as gerações vindouras (gerações vindouras?), porque a Europa obriga, e nós queremos estar na Europa. Razões que a todos parece fazerem sentido. Contudo esta penúria em que nos movemos no SNS deixará mazelas muito caras e desengane-se quem pensa que o futuro é melhor. O futuro é um SNS profundamente debilitado e uma privada, igualmente, enfraquecida. O estado não vai aguentar esta sangria por muito mais tempo. Mesmo que coloque peões de brega que tudo fazem para ficar bem na fotografia, até contratos de trabalho que são autênticas bizarrias, seja na forma seja no conteúdo, mesmo assim o edifico pode desmoronar.

Lembro-me, por exemplo, no século passado quando comecei a trabalhar na saúde, visualizar fracturas como calos ósseos absolutamente aberrantes e encurtamentos óbvios. Fracturas que foram curadas em casa. Um imenso número de portugueses que nunca tinham ido ao médico. Em lado nenhum está escrito que este terror não se volta a instalar no nosso país. Quando não se tem dinheiro não se vai ao médico. A saúde oral, o planeamento familiar são exemplos muito claros do que afirmo. Aliás um bom exercício é perceber se são os estomatologistas os grandes milionários do sistema. Claro que não são e ainda nem saúde oral temos para todos, por isso a falta de dinheiro fecha a porta a sistemas de saúde privados.

Neste momento, estudo o Corpo de Saúde do Corpo Expedicionário Português (C.E.P.) e leio uma monografia de um médico, coronel, uma narrativa etnográfica(?), que relata a chegada do contingente português a França. Foi ali para os anos de 1917, um país de 6,2 milhões de habitantes, envia cerca de 55.000 homens para a guerra sem, se quer, os vestir para o frio (deixo à vossa imaginação ao que estes homens estiveram sujeitos), mas a República queria estar na Guerra. É uma lição acompanhar o Coronel Martins e a descrição do serviço de saúde dos britânicos, comparado com aquele que “orgulhosamente” os portugueses apresentavam. E numa semana toda a organização se descaraterizou perante a realidade (ler o Coronel Martins é assustador pelas analogias que se conseguem fazer à nossa actual realidade ).

É este o caminho que vai levar este SNS já sem dono ou com donos obscuros. Neste momento a organização tenta adaptar-se, (ainda por cima com gente que interiorizou a enorme falácia que “com menos se faz mais”), mas estas sucessivas adaptações, as imensas decisões em cima do joelho, a falta de dinheiro crónica, iniciaram uma descaraterização sem retorno. E é isto que a esquerda, parece-me, ainda não percebeu.

Assim como muitos dos soldados da 1º Grande Guerra não quiseram voltar a este país também muitos dos que se revêm no SNS, muitos dos que têm orgulho em serem funcionários públicos deste Sistema Nacional de Saúde, se vão afastar. Muitos dos soldados sentiram-se abandonados, e como se sentem os profissionais de saúde do SNS? (bem sei que o teatro de guerra não é comparável).

Jamais se volta ao mesmo SNS, como a água do rio jamais passa duas vezes no mesmo leito. Como o açúcar que deitamos numa chávena de chá quente jamais o conseguimos voltar a reunir. Entropias. É O TEMPO DA ESQUERDA. Há que reativar a filosofia e o espirito. Há que ter coragem e romper com baixos salários. Salários contidos, claro que sim. Aquilo não é trampolim para privados. Mas salários, carreiras, respeito e regras apertadas. Envolver com ideias os profissionais. Trabalhar no SNS exige regras claras e transparentes, e na verdade não é para todos. É para quem veste a camisola. E isso a Esquerda sabe fazê-lo. Todos sabemos que alguns de nós juntos conseguem reerguer este SNS.


A ESQUERDA tem de perceber que as entropias se pagam caro. E eu tenho que perceber que as UTOPIAS são cada vez mais difíceis de concretizar.

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