As redes sociais vão
ganhando destaque na sociedade contemporânea e fugir a elas ou diabolizá-las,
sobretudo quando se acredita que se tem algum poder institucional é no mínimo
cobarde. Se por um lado, denota fragilidade na exposição pessoal, por exemplo de
um responsável de uma instituição, por outro é não perceber que elas alteram as
relações sociais em diversos sentidos e que são, hoje, o sujeito aglutinador e
modificador em muitas situações da atualidade.
As redes são responsáveis pela
influência que exercem nos meios políticos, quando possibilitam novas formas de
atuação e ação (quantas vezes o absurdo ganha importância); são responsáveis
por produzir novos valores sociais, culturais e outros. Tornam-se, direta e
indiretamente, responsáveis na forma como a ágora vai sendo ocupada. São as
redes responsáveis pela aglutinação da sociedade civil, por ampliar a
participação de mais cidadãos na vida ativa, aumentam a capacidade de mobilização
e articulação, obrigam a um maior envolvimentos dos diferentes atores, e
mostram aqueles que se resguardam nas instituições ou na ideia de “que assim não
se comunica”, ou “certas coisas não se dizem nas redes sociais”.
Quer queiram
quer não, mesmo que reúnam 100 pessoas a dizerem que sim numa sala, elas
tornam-se invisíveis se as redes sociais por isso optarem. Hoje não se
reconfigura nem se desenham estratégias numa
sala fechada porque a rede social/internet contribui para novos processos de
relacionamento e novas vivências. De
Joan Subirats (2011) trazemos a ideia de que se se quer uma democracia viva e participada
temos de criar espaços de debates abertos, onde as ideias se construam nos
espaços compartilhados. A sociedade, cresce na medida exata da sua organização
civil. É por isso que a participação cidadã é maior, mais visível e esvazia
meia dúzia de conceitos introduzidos em espaços de reunião confinados. E a
responsabilidade cabe às redes sociais. É de facto na porosidade dos contatos
que crescem os grupos e as ideias, e se definem como democratas as politicas
adotadas. De outra forma surgem sempre impostas e com poucos fiéis. De outra
forma não se discutem ideias, impõem-se discursos. Não é possível organizar nenhuma
ação técnico, cientifica, informacional e social sem o uso das redes sociais.
De outra forma não se materializam ideias nem as relações.
É este o processo de dar voz
ao cidadão, de expressar as suas apreensões, inquietudes, os seus interesses. E
muito além disso, permite problematizar as questões que muitas vezes permanecem
ocultas pelas instituições que tentam sempre controlar o discurso. A ampliação
do uso das redes deve ser um exercício fundamental para as instituições chegarem
aos cidadãos, mesmo que isso sujeite a sua rede de atores e a redefinições das
relações de poder. Muitos daqueles que foram sujeitos não iram sobrevier a esta
revolução, e quem não entender isto não entendeu o século XXI. E muitos
daqueles que pensámos mortos, renascem nas redes e agigantam-se. Ser instituição
e arredar-se neste momento das redes é além de um erro da contemporaneidade, um
erro de visão e denota medo do debate. E no debate, se intelectualmente
elevado, a razão não se encontra sempre do lado institucional, no debate
mudam-se opiniões, alteram-se comportamentos e tem-se a medida exata de que
ninguém possui a razão total.
É pelo que disse acima que tiro o chapéu a quem se
sujeita ao sufrágio das redes, quem se expõe, sobretudo atores com responsabilidades institucionais. Distancio-me de quem se encontra dentro de gabinetes, apenas
comunica em salas fechadas e se escuda atrás de uma secretária como o detentor
da verdade e da razão. O século XXI não
permite ditadores disfarçados e mergulhados em muitas reuniões cheias de
interesses e saberes “divinos”. O discurso do poder é outro e o poder é outro e
a guerrilha institucional instala-se.
Obrigada a todos aqueles que
não têm medo das redes sociais, a todos com os quais tenho aprendido, a todos
os que conseguem, a bem ou a mal, ir mantendo a chama viva e não desistem de
aprender, de debater e sobretudo, de ler e ouvir.
Bibliografia:
Foucault, M. Vigiar e Punir
Penteado, Claúdio et all. 2017. Democracia digital e
experiências de e-participação: webativismo e políticas públicas.
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