sábado, 20 de janeiro de 2018

Sobre Grupos Profissionais e ou sobre viver em Democracia

     As redes sociais vão ganhando destaque na sociedade contemporânea e fugir a elas ou diabolizá-las, sobretudo quando se acredita que se tem algum poder institucional é no mínimo cobarde. Se por um lado, denota fragilidade na exposição pessoal, por exemplo de um responsável de uma instituição, por outro é não perceber que elas alteram as relações sociais em diversos sentidos e que são, hoje, o sujeito aglutinador e modificador em muitas situações da atualidade. 

    As redes são responsáveis pela influência que exercem nos meios políticos, quando possibilitam novas formas de atuação e ação (quantas vezes o absurdo ganha importância); são responsáveis por produzir novos valores sociais, culturais e outros. Tornam-se, direta e indiretamente, responsáveis na forma como a ágora vai sendo ocupada. São as redes responsáveis pela aglutinação da sociedade civil, por ampliar a participação de mais cidadãos na vida ativa, aumentam a capacidade de mobilização e articulação, obrigam a um maior envolvimentos dos diferentes atores, e mostram aqueles que se resguardam nas instituições ou na ideia de “que assim não se comunica”, ou “certas coisas não se dizem nas redes sociais”. 

     Quer queiram quer não, mesmo que reúnam 100 pessoas a dizerem que sim numa sala, elas tornam-se invisíveis se as redes sociais por isso optarem. Hoje não se reconfigura  nem se desenham estratégias numa sala fechada porque a rede social/internet contribui para novos processos de relacionamento e novas vivências.  De Joan Subirats (2011) trazemos a ideia de que se se quer uma democracia viva e participada temos de criar espaços de debates abertos, onde as ideias se construam nos espaços compartilhados. A sociedade, cresce na medida exata da sua organização civil. É por isso que a participação cidadã é maior, mais visível e esvazia meia dúzia de conceitos introduzidos em espaços de reunião confinados. E a responsabilidade cabe às redes sociais. É de facto na porosidade dos contatos que crescem os grupos e as ideias, e se definem como democratas as politicas adotadas. De outra forma surgem sempre impostas e com poucos fiéis. De outra forma não se discutem ideias, impõem-se discursos. Não é possível organizar nenhuma ação técnico, cientifica, informacional e social sem o uso das redes sociais. De outra forma não se materializam ideias nem as relações.

       É este o processo de dar voz ao cidadão, de expressar as suas apreensões, inquietudes, os seus interesses. E muito além disso, permite problematizar as questões que muitas vezes permanecem ocultas pelas instituições que tentam sempre controlar o discurso. A ampliação do uso das redes deve ser um exercício fundamental para as instituições chegarem aos cidadãos, mesmo que isso sujeite a sua rede de atores e a redefinições das relações de poder. Muitos daqueles que foram sujeitos não iram sobrevier a esta revolução, e quem não entender isto não entendeu o século XXI. E muitos daqueles que pensámos mortos, renascem nas redes e agigantam-se. Ser instituição e arredar-se neste momento das redes é além de um erro da contemporaneidade, um erro de visão e denota medo do debate. E no debate, se intelectualmente elevado, a razão não se encontra sempre do lado institucional, no debate mudam-se opiniões, alteram-se comportamentos e tem-se a medida exata de que ninguém possui a razão total.

            É pelo que disse acima que tiro o chapéu a quem se sujeita ao sufrágio das redes, quem se expõe, sobretudo  atores com responsabilidades institucionais. Distancio-me de quem se encontra dentro de gabinetes, apenas comunica em salas fechadas e se escuda atrás de uma secretária como o detentor da verdade e da razão. O século XXI  não permite ditadores disfarçados e mergulhados em muitas reuniões cheias de interesses e saberes “divinos”. O discurso do poder é outro e o poder é outro e a guerrilha institucional instala-se.

           Obrigada a todos aqueles que não têm medo das redes sociais, a todos com os quais tenho aprendido, a todos os que conseguem, a bem ou a mal, ir mantendo a chama viva e não desistem de aprender, de debater e sobretudo, de ler e ouvir.

Bibliografia:

Foucault, M. Vigiar e Punir
Penteado, Claúdio et all. 2017. Democracia digital e experiências de e-participação: webativismo e políticas públicas. 

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