sábado, 13 de janeiro de 2024

O uso da bata branca e a aceitação da ciência.

 







(A Clínica Gross" foi pintada pelo americano Thomas Eakins em 1875, pouco antes da adoção de um ambiente cirúrgico higiénico, e é por isso que é frequentemente contrastada com a pintura posterior de Eakins, "A Clínica Agnew" (1889), representa uma sala de operações mais limpa, com participantes de batas brancas, em linha com o que a ciência ia publicando )



 

 

Não será novidade para ninguém que até ao seculo XV, XVI a ciência não existia. Não, enquanto entidade apoiada na experiência e observação, não, enquanto entidade apoiada no método científico.

 

As disciplinas da área da medicina foram as últimas a abandonar uma série de crenças, aqui crença como uma entidade não científica. Queremos dizer com isto, que a medicina foi o último reduto a render-se a Karl Popper e ao método científico. Levou décadas até a medicina fazer uma separação rigorosa entre as crenças, a religião e, a ciência, a doença e as suas origens e tratamentos, etc.

 

Não vamos aqui recuar a  Leviantã, a Thomas Hobbes, na desconstrução de Bruno Latour e Callon fizeram desta obra. Nem vamos passear por Popper, que bastava para justificar porque qualquer profissional de saúde, credenciado, não deve prescindir do uso do branco.

 

Ficamos apenas com duas obras, duas pinturas que distam entre si 14 anos, ambas do século XIX, e que de forma quase intuitiva nos fazem entender o branco como símbolo de luz, de saber, de conhecimento, de ciência.

 

As pinturas acima, a primeira de 1875 (ainda a medicina resistia ao método cientifico) sem bata, a segunda de 1889, já acreditando que a evolução passava pela experimentação e observação, o uso da bata branca absolutamente institucionalizado.

 

O branco num profissional de saúde significa LUZ, SABER, CONHECIMENTO, CIÊNCIA.

 

Colocar outra qualquer cor em médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, farmacêuticos, sobretudo para os fazerem distinguir-se uns dos outros, não é mais do que um sistema de classificação que valoriza estigmas que durante anos combatemos.  A ignorância é atrevida, a ignorância sobre certas simbologias permite que alguns “doutos” dirigentes tomem decisões tontas, até bizarras, e que pode deitar por terras anos de luta. Queremos estar sempre associados à melhor e última evidência científica, que a ciência nos pode oferecer, e os símbolos são importantes por isso.




 

Ainda hoje grandes escolas de medicina e enfermagem comemoram, por esse mundo fora,  a cerimónia do USO DA BATA BRANCA, que acontece quando um aluno já tem conhecimentos suficientes para usar este símbolo de saber.

 

Não nos tirem isto, não descartem símbolos porque não sabem o peso que eles têm na história da ciência




CONSULTADO:

Desparafusando o grande Leviatã (Callon e Latour 1981) – LaSPA

Delicado, A. Microscópios, batas brancas e tubos de ensaio: Representações da ciência nas exposições científicas

Microscopes, White Gowns and Test Tubes: Representations of Science in Scientific Exhibitions

 

Ribeiro, F.; Siva, S. ; 2023.Ciência de bata branca? Luzes e sombras nas representações dos cientistas